16 agosto 2007

Tragédia

Não sou mais a pasta espinhosa que me comprometeu
Não sou mais o corpo alado de outras noites
De tempos de outrora
Não sou mais o livro ou o romance
Não sou mais o espectro de um filho de Dante
Inacabada a indolência vacilante de Deus

Não sou mais o vinho em tempos de cólera
Não sou mais o arquivo distante de um sonho

Não sou mais a névoa ou o condor
Não sou mais a fragilidade ou a dor

Sou antes o irascível divino
A tragédia comestível
As finas recordações de Ares e Hades

Sou a mitologia de Ártemis
E a violenta complexidade

Sou a divina tragédia de um teatro vistoso
De envelopes de lacre nos assentos
Com a sentença do meu fim.

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